terça-feira, outubro 20, 2015

A loucura, a solidão e as tristezas - o lado B da maternidade

Você recebeu um presente.
O maior de todos os presentes. Cansada, olha para o lado, e vê seu bebê, a luz da sua vida. Como pode então se sentir triste e angustiada? Como pode se sentir só, quando já não vai mais nem ao banheiro desacompanhada?

Quando fui mãe pela primeira vez, conheci de perto esse sentimento de solidão. Pensei comigo "sou muito nova, deve ser por isso que estou sofrendo tanto". Achei que numa próxima experiência, tudo sairia diferente. Que a maturidade me traria apenas sensações de alegria nesse momento incrível que é ter um filho. Ledo engano...

Você lê em sites e blogs de maternidade na internet, e lá estão milhares de mães como você. Sofrendo. Não me lembro onde, mas li um artigo que chegava a falar em luto. Que palavra forte, pensei na hora. Luto é mesmo uma palavra muito forte, mesmo considerando que uma parte sua, deixou de existir. E nem todos os desenhos, textos e passeios que eu faça nesse momento, podem acalmar quando bate aquela sensação de estar enlouquecendo. De estar completamente só. De não se sentir mais mulher. De não se sentir bonita. De não se sentir você.

Eu achei que tinha me preparado o suficiente para passar por tudo isso de novo. Mas acho que. a gente nunca se prepara o suficiente pra algo que não conhece. Não se engane. Minha vida (e a de muitas outras mães) não é um mar de infelicidades. O fato de estarmos tristes, em alguns momentos, não significa que não estejamos extremamente felizes em outros. Essa coisa dúbia louca, deve ser por conta dos hormônios, só pode ser. Ou por causa do filme triste da sessão da tarde, que desencadeia uma onda de choro. Ou porque o bebê não parou de chorar, e você já esgotou todo seu repertório de entretenimento. Daí nasce a loucura.

Ou ainda, você está sozinha em casa com o bebê na maior parte do tempo, não recebe mais visitas. Você sente que os amigos desapareceram. E de uma hora para outra, aquela vida social que você tinha passa de pouca para inexistente. Você não vai mais a um café fofocar, por exemplo. (Você nem pode mais tomar café...). E os almoços, bem, só os em família e olhe lá (misteriosamente você tem a sensação de que até a família se distancia depois que a novidade passa). Isso sem contar que, depois de um tempo, parece que até você não quer mesmo ver ninguém. Daí nasce a solidão.

Já me peguei pensando " mas o que pode  ter dado errado? " Passei a gravidez toda feito um meme mendigando likes. "Por favor, vai lá me visitar ein" " por favor, não me deixem sozinha" "por favor isso e aquilo". Uma vez uma amiga me disse: quando eu tinha dois filhos, as pessoas me chamavam pra fazer as coisas. Agora que eu tenho três, ninguém me convida mais... Que loucura! Eu entendo ela. Não, não é que os amigos deixaram de convidar, de visitar, a família também está lá. É que nós, quando ficamos exaustas, olhamos ao redor, e geralmente estamos sozinhas.

E é super complicado. Você não tem com quem conversar. Não pode expressar que está triste. As pessoas não aceitam isso numa boa, afinal você é mãe e tem que estar sempre feliz com isso, ora essa!
Você tenta desabafar com alguém e só escuta frases como:

É SÓ UMA FASE, VAI PASSAR. Oras bolas, eu sei disso. Todo mundo sabe. Mas isso por acaso muda aquilo que a gente está sentindo num momento de solidão?

VOCÊ SÓ SABE RECLAMAR. Acho essa das mais excelentes. Você está lá, exausta, com os cabelos revirados, sem escovar os dentes. Não dormiu a noite e não faz refeições sem estar balançando um bebê há alguns meses. E quando você acha que pode desabar, e se reconfortar em alguém, ouve um sonoro "você só sabe reclamar".

SEJA RACIONAL. Essa também é muito, muito boa e não exige grandes explicações. Pegue qualquer pessoa fragilizada e destituída do controle sobre a sua vida, e largue uma frase dessas. Agora aceite como você pode ser cruel.

APROVEITE. DEPOIS VOCÊ VAI SENTIR SAUDADE! É sério isso? Não consigo nem comentar.


Vou dizer para você que, eu ainda tenho muita sorte. Tenho duas primas na minha vida, uma que teve um bebê a pouco tempo, e outra que lida com bebês o dia todo. Ambas, quando eu falo que estou muito cansada, desnorteada, ou qualquer outra coisa, apenas me confortam com um simples e sonoro "É FODA". 

Me sinto mais leve e revigorada depois de um é foda. Me sinto mais humana e menos culpada. Me sinto uma mãe comum, e não um monstro. 

Eu já disse lá em cima, mas vou frisar aqui: Não se engane. Minha vida (e a de muitas outras mães) não é um mar de infelicidades.

É só que, de vez em quando, É FODA.

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