sexta-feira, setembro 25, 2015

Carta aberta aos senhores deputados da bancada evangélica

Senhores,
não sou uma pessoa chegada a polêmicas. Em outro momento, talvez, nem fosse comentar sobre a definição de família aprovada por vocês, por mais absurda que me parecesse. Mas ocorre que na noite passada, amamentando minha filha recém nascida, e lendo todas as notícias acerca do assunto, me entristeci por pensar no Brasil que estamos deixando para ela ( e para milhares de outras crianças).

Vim de uma legítima família tradicional brasileira, daquelas com pessoas super frequentadoras da igreja, que querem catequizar todos a sua volta. Pasmem vocês, mas isso só me fez ficar mais crítica quando o assunto é religião... (Estou aqui torcendo para que ocorra o mesmo com os vossos filhos). Não entra na minha cabeça, o Brasil ser um estado laico, e vocês ainda estarem aí na Câmara, colocando opiniões de cunho religioso sobre as leis do nosso país.

Não me entendam mal. Eu respeito muito a religião. Como eu já disse, venho de uma família cheia de religiosos. Mas me preocupo fortemente com o futuro, assistindo suas interpretações deturpadas de trechos bíblicos, em sua grande maioria intolerantes e preconceituosas.

Eu gostaria de saber, (e estou aguardando a resposta) como a sua fé, poderia interferir no direito das outras pessoas? Como, num estado laico assegurado constitucionalmente, alguém pode deferir leis com base nos valores religiosos de alguns? Como? Eu não canso de me perguntar... 

Essa noite, amamentando minha filha, não consegui olhar pra ela sem pensar nas milhares de outras crianças, que tem a sorte de ter uma família, e nas outras milhares que estão por aí, algumas em orfanatos, outras nas ruas largadas a própria sorte, esperando por uma. 

Há pouco tempo, uma professora minha adotou um casal, irmãos de 8 e 10 anos, e em alguns dias, eram a família mais feliz do mundo. Como se sempre tivessem sido. Como se estivessem destinados a ser. Também tenho inúmeros amigos homossexuais que desejam adotar crianças. Sempre achei esse gesto dos mais nobres. São pessoas, sem laços sanguíneos, vivendo como família por escolha. Tem coisa mais bonita?

É necessário ter um coração muito, muito grande, e cheio de amor, para configurar uma família. Estou falando sério. Parir filhos, ser um casal homem e mulher, é super simples. 
Difícil mesmo é SER uma família. É criar os filhos numa esfera rodeada de amor e compreensão. É superar o preconceito, as dificuldades, dia após dia, e ainda assim, se manter cordial e respeitoso com os outros. É aceitar o outro, como ele é. É o amor, acima de todas as outras coisas.

Sei que vocês não entendem bem do que eu estou falando, mas de repente, conseguem fazer um esforço. Olha, eu como mãe, sempre achei que cada um poderia transmitir aos seus filhos os valores que achasse que deveria (inclusive esses, de ignorância incomparável). No entanto, não queiram por favor, estender isso aos demais.

Já me alonguei muito, mas antes de concluir, vou contar uma historinha:

Tenho um filho, que na época, estava com 7 anos.
Ele e sua melhor amiga, que é filha de pais separados e mora com a mãe e com a avó, estavam saindo do colégio. A menina, conversando com ele, se mostrou bem surpresa por ele morar com o pai e com a mãe, afinal essa não era a realidade dela. E adivinhem só? Meu filhinho, de 7 anos, diante daquela situação, explicou para todos (inclusive para mim) que haviam muitos tipos de família. Família com pai e mãe, com só a mãe, ou só o pai. Algumas famílias com avós, ou tios. Famílias com dois pais, ou com duas mães... E ele terminou dizendo: o que vale é o amor, não é mãe? 

Meus olhos se encheram de lágrimas obviamente. Afinal eu nunca tinha entrado nesse tipo de assunto com ele. E o que eu quero dizer com isso senhores? É bem simples.
Se o medo de vocês ainda é "o que eu vou dizer ao meu filho", não se preocupem. Não há mais necessidade de dizer nada! Crianças são genuinamente boas. Nada é preciso ser feito. Só precisamos aceitar o outro, respeitar o outro, coisa que toda religião prega.

Apesar dos seus esforços, sinto informar que família não se define.
Família se cria, se recria, se reinventa. Tudo para estar próximo de quem amamos. Essa é a máxima.

Afinal, o que vale é o amor, não é?

Lela.



Um comentário:

Joseane disse...

Esse quadro resume a verdadeira essência da familía!!
Tia Jose!!!