Eu sempre quis ter outro filho. Quem me conhece, sabe.
Só que planejar o segundo filho, era outra história.
Sempre dizia: "por mim, teria outro filho agora", "ah eu por mim, já teria dois filhos", "ah eu acho que já passei da hora de ter outro filho". Dizia, e repetia, e nada.
Aliás eu sempre disse também que queria outro filho "dado" assim como foi com o Vinícius. Queria que acontecesse, porque planejar, ora planejar nunca dava.
Nos dias de hoje, se a gente planeja tudo, não tem filho. E é sério. Tem que querer muito, tem que ter dinheiro, tem muita coisa errada no mundo, tem isso e aquilo e aquele outro, e são tantas as desculpas para não se ter outro filho, que a gente não tem.
Foi mais ou menos assim:
Eu estava num processo de check up de fim de ano, fazendo tudo quanto era tipo de exame, afinal eu já to com 30 e a gente precisa cuidar do colesterol (só comer no Mc Donalds não dá, é preciso controlar tudo o que aquela gordura terrível pode nos fazer e tudo mais).
Aí nesse processo, sentamos eu e o Bruno para conversar e decidimos colocar um DIU de 5 anos, e então no futuro analisaríamos se teríamos ou não outro filho.
Foi exame pra lá, ultrassonografia pra cá. E nada.
Tudo certo, tudo perfeito. Pó marcá de colocar o DIU, senhora.
Um dia antes da consulta com a tal médica do DIU, falei pra minha sócia: "minha menstruação está atrasada quase uma semana". Minha sócia, sempre prestativa e boa conselheira, me disse: "ah, você acabou de fazer todos os exames e não deu nada, mas compra um de farmácia, só pra ir amanhã com a cabeça - tranquila -" .
Acordei no dia seguinte, meu médico era no final da manhã, e fui na farmácia - dois palitos - comprar o tal exame. Só pra garantir. Pra ir com a cabeça - tranquila - .
Cheguei em casa, fiz aquele xixizinho maroto no potinho e mergulhei a fitinha, que, adivinhem só, ficou instantaneamente com dois riscos roxos muito fortes.
Alí dizia: grávida. Muito grávida. Mega grávida.
Mascomassim? Me apavorei.
Eu fiz TODOS os exames e não deu NADA. Não pode. Esperei alguns minutinhos pra ver se a marcação das fitas retornava de duas para uma, mas nada. Eu estava mesmo grávida.
Saí do banheiro com os olhos cheios de água. Eu estava preocupada com o Vinícius, porque ele sempre disse que não queria irmãos. "Não preciso, já tenho um cachorro agora". Dizia ele.
Sentei ao lado dele, e quando ele me olhou, viu na minha cara que era um assunto sério, o que fez ele dispensar a atenção dos jogos de computador e voltá-la para mim:
-Filho, eu acho que você vai ter um irmão. - disse eu, com a voz engasgada.
Vinícius, sempre gênio, me responde:
-Sei tudo sobre ser irmão mais velho. Vamos precisar de um beliche!
Fiquei tão feliz. Porque, incrivelmente, aquele sim era o que eu estava mais ansiosa pra ouvir.
Fomos ao médico, e lá estava eu com o Vinícius do lado, e com as mãos trêmulas.
Me lembro que ele tão carinhoso, me viu sentada enlouquecida na cadeira, pegou uma revista velha de consultório e me trouxe dizendo:
-Mãe, foca nas imagens dessa revista que vai ficar tudo bem.
Ora vocês imaginem, meu filho de 7 anos fazendo o papel que eu deveria estar fazendo.
Entramos e foi tudo muito simples:
-Oi, eu vim colocar o DIU, mas eu fiz um teste de farmácia e deu que estou grávida!
-Ah, então é isso. Vou lhe receitar essas vitaminas e te dar esses exames pra você começar seu pré-natal e sobre o DIU um beijo e até ano que vem. Tchau.
Me lembro de estar na porta e perguntar: tá mas não preciso fazer um exame de sangue pra confirmar? Não. Aceite, se o da farmácia falou que você esta grávida, então você está.
Sai do médico, olhei pro Vinícius e disse: precisamos contar pro pai!
Dirigi até o trabalho do Bruno, e fui ficando cada vez mais apreensiva ( de novo). Meu deus, como pode uma mulher sair de casa dizendo "tchau amor vou colocar um DIU" e voltar dizendo "oi amor estou grávida"?
Nesse tempo, Vinícius já estava tão empolgado que parecia o urso do pica-pau, dando volta em torno de si mesmo e rindo sem parar.
Cheguei no trabalho, sentei na mesa dele, ele olhou minha cara de pavor, e perguntou: "tá tudo bem?" (Vinícius dando aquela gargalhada de criança que tem um segredo, sabe). Respondi apenas "tá".
Peguei o exame dentro da bolsa, e passei assim embaixo da mão, escorregando pela mesa, até chegar nele. Quando o exame se revelou, ele apenas disse: "e você está bem?" Respondi apenas "estou".
Em alguns poucos minutos, ele fechou tudo no computador e disse: "to indo pra casa".
Ninguém ia conseguir mais ficar sentado ali depois daquela notícia, isso era verdade.
Fomos em silêncio até o carro. Entramos. Todos de cinto. Arrancamos. Até que eu disse:
-O que nós vamos fazer?
E ali se iniciou toda uma conversa que resolveu todas as questões que surgiram. Foram necessários 45 minutos do trabalho pra casa, para que a Valentina fizesse oficialmente parte da família. Como membro integrante ocupador de espaço próprio e inquestionável.
Imagem retirada do Indiretas maternas
Para todos que me perguntam então, se eu planejei esse segundo filho, eu respondo agora:
Planejei! Planejamos todos, por longos 22 Km.
Um comentário:
Lindo minha nora! Adorei,pelo visto estavas inspirada hoje pela manhã (5:44)
Postar um comentário